terça-feira, 15 de setembro de 2009

Números do abandono

Postado por Lu às 20:35
Participar de reuniões do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade é sempre um grande aprendizado. Lá a gente leva um choque de realidade, vê que o mundo não é só nosso umbigo. E todas as vezes que compareci, percebi um mesmo padrão: a maioria dos presentes era de mulheres, quase todas mães e esposas. Não é coincidência.

Segundo a Defensoria Pública de Minas Gerais, o número de presos brasileiros dobrou nos últimos oito anos. Em 2000, eram 232 mil, em dezembro do ano passado o número já correspondia a 446 mil. Apesar da população carcerária feminina também ter crescido de forma muito acelerada recentemente (também em oito anos, passou de cerca de 14 mil para quase 27 mil, em 2007), o número de presos homens é bem maior. Talvez esta seja uma explicação para a presença de tantas mulheres no Grupo.

Mas um fato, infelizmente, não se pode negar. As mulheres presas sofrem de um abandono muito maior que os homens. Dados de 2008 do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) mostraram que 62% das presas não recebem visitas sociais e somente 9% recebem visitas íntimas. No quadro masculino, somente 20% não recebem visitas. Não só as visitas param, como relacionamentos acabam com a prisão das mulheres. Homens não se mantém fiéis e rapidamente arrumam outras parceiras, como disse uma assistente social de um presídio feminino em Ribeirão das Neves.
As presas são afastadas dos filhos e, em geral, são amparadas apenas por suas mães. Enquanto isso, nos presídios masculinos as filas começam a se formar na noite anterior à visita. As visitantes enfrentam chuva, frio, vento, sol, calor para darem apoio a quem está “na tranca”. Algumas mulheres se correspondem por carta com presidiários que nunca viram, na esperança de encontrar um amor. Outras mulheres levam seus filhos pequenos para visitar o pai deles na prisão. E outras, ainda, vão para ver seus próprios filhos. Homens nas filas de presídios femininos e masculinos existem, mas são menos numerosos, sejam eles maridos, pais ou irmãos.

Não pretendo fazer julgamentos sobre o assunto, nem levantar hipóteses sobre o motivo que leva os homens a largarem suas mulheres em momentos de prisão, enquanto o contrário normalmente não ocorre. Quero apenas registrar e compartilhar a tristeza de ver esta realidade, que aparece nas filas dos presídios, nos grupos de apoio a presos e seus familiares, nas pesquisas feitas pelos órgãos relacionados ao sistema prisional. Quem sabe, um dia, essa preocupação e companheirismo se tornem os mesmo para homens e mulheres?

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