
sábado, 3 de abril de 2010
Confissões de feminista

domingo, 21 de março de 2010
Careta, eu?

E não são só eles. Propagandas de cerveja ainda insistem em associar mulher gostosa a cerveja, como se não houvesse público feminino que consome o produto. A polêmica da cerveja Devassa no último mês é um exemplo interessante. Setores da sociedade em defesa da mulher reclamaram, o CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária) agiu, tirou do ar o anúncio de TV, os marqueteiros da Devassa zombaram da determinação e lançaram uma propaganda pior do que a primeira. Infelizmente, poucos perceberam que a objetificação da mulher não estava no anúncio, mas no nome da cerveja. Para retirar a “piada” machista incrustada da campanha, só refazendo uma identidade formada e, agora, solidificada. Impossível.
Quando o debate morreu, quem ficou com o filme queimado foram os grupos defensores da imagem feminina. De tanto defenderem a igualdade, o correto virou sinônimo de chato, careta, sem-graça. Quem defende os direitos das “minorias”, então, virou vitimista, chiliquento e rebelde-sem-causa. Afinal, levam a sério brincadeiras inocentes, como piadas homofóbicas, racistas, machistas e xenófobas, se incomodam com propagandas preconceituosas e todo tipo de conteúdo que reduz mulheres a objetos, gays a pseudo-mulheres, negros a ladrões, e assim por diante.
Mas que tipo de mundo os politicamente incorretos querem, afinal? Talvez eles tenham a esperança de que, mesmo colocando o dedo na ferida dos outros, esse machucado se cicatrize sozinho. Eu prefiro ser chata, careta, enfim, politicamente correta, pois ninguém vai colocar o dedo na minha ferida.
sábado, 12 de dezembro de 2009
Animais (Ir)racionais

Homem é razão e mulher é emoção. São inúmeras as pesquisas “científicas” que tentam comprovar essa falácia, que relega às mulheres o lugar secundário na escala evolutiva e intelectual. Ainda tem muita gente que concorda com isso, como se chorar fosse a única forma de demonstrar emotividade. E “homens não choram”. A eles foi permitida (ou imposta) outra forma de se expressar: a agressividade.
Curiosamente, a raiva expressa em palavras e gestos (pancadas) não costuma ser associada à emoção ou à falta de racionalidade. Na verdade, ser agressivo é considerado (por muitos) como algo natural, inerente ao sexo masculino – heterossexual, de preferência. De fato é muito cômodo jogar tudo nas costas de um destino inevitável, sem se preocupar com o auto-controle, também ensinado em nossa sociedade contraditória. A grande ironia é que os homens, vistos como mais racionais, sucumbem ao poder de sua “natureza” agressiva, tão emotiva quanto a de crianças que não sabem perder, nem dividir.
O futebol é uma fonte inesgotável de exemplos que mostram como o homem racional pode se tornar um neandertal, com direito a porrete na mão. O Campeonato Brasileiro recém acabado foi um show de horrores nesse sentido, principalmente nas semanas finais. Jogadores trocando sopapos em campo e nos treinos, torcedores agredindo jogador no meio da rua porque este não faz mais gols. E, por fim, torcidas organizadas da barbárie. Uma, do Coritiba – agora na segunda divisão, que invadiu o campo, enfrentou policiais e tentou bater em todo mundo que poderia ser visto como “culpado” pela derrota. A outra, do Flamengo - campeão deste ano, que surpreendentemente espancou torcedores do mesmo time, paralelamente à festa do título.
Duas pontas de um mesmo problema, muito mais relacionado ao modelo hegemônico e esmagador de masculinidade “ideal” (o homem com H maiúsculo) do que ao excesso de testosterona. Enquanto o futebol é coisa de “macho”, em que mulheres e homossexuais só servem como ofensa e chacota, a “racionalidade da pancada” parece perdurar. E o mais duro, além de ver gente se matando por um jogo que em nada muda a vida dos torcedores, é continuar ouvindo a balela de que racionais mesmo são eles.
domingo, 8 de novembro de 2009
Baderna na Uniban
Por um breve momento, achei que tinha perdido a oportunidade de comentar o lamentável incidente ocorrido no dia 22 de outubro, quando alunos da Uniban (Universidade Bandeirante) do ABC paulista quase lincharam uma colega por causa de um vestido curto.
Mas uma última novidade neste final de semana retoma todos os pontos levantados até agora e dá um “grand finale” de cair o queixo: a moça agredida foi EXPULSA da universidade. Pois é, o preconceito e o machismo foram institucionalizados.
Em nota, a Uniban divulgou o desligamento da aluna Geyse, 20 anos, do curso de Turismo, por considerar que ela provocou a situação. Para eles, uma moça é perseguida, insultada, exposta ao país inteiro, ameaçada de agressão e estupro e, finalmente, é a responsável por tudo isso. Chocante!
Resolvi pegar a tal nota da Uniban e destrinchar seus argumentos. Vamos lá:
“RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL
A educação se faz com atitude e não com complacência”
R – Título e subtítulo que, a princípio, dariam a entender que os agressores seriam punidos severamente. Ledo engano.
“Foi apurado que a alune (sic) tem freqüentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento.”
R – A Uniban não esclarece quais trajes seriam “adequados”. A universidade também não evidencia se há, de fato, regras que determinam as vestimentas próprias dos alunos. Se não há tal documento, como estabelecer um padrão de trajes?
”A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior do que o habitual, aumentando sua exposição e ensejando, de forma explícita, os apelos de alunos que manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.”
R – Parece piada! Agora andar, passear, matar aula, bater papo no corredor, ir ao banheiro mais longe, tudo isso pode ser “exposição” e justificativa para linchamento. Ela posou para fotos? Nossa, que crime!
”Novamente, a aluna optou por um percurso maior ao se dirigir ao toalete, o que alimentou a curiosidade e o interesse de mais alunos e alunas, tendo início, então, uma aglomeração em frente ao local.”
R – Uma hipocrisia sem tamanho de quem vê mini-saias todo dia na rua e na TV. Além disso, as aulas eram menos importantes que uma mini-saia alheia, pelo que parece.
“Depoimentos de colegas indicam que, no interior do toalete feminino, a aluna se negou a complementar sua vestimenta para desfazer o clima que se havia criado.”
R –Se houvesse educação e respeito por parte dos alunos e funcionários, o “clima” sequer teria surgido.
“Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”
R – Ponto 1) Se a moça não insultou, nem agrediu ninguém, qual é o problema de querer “chamar a atenção”? Ela tem todo o direito de usar roupas que a fazem se sentir bonita, desejada. A moda existe para isso!
Ponto 2) Chamar aquela algazarra misturada com linchamento de “reação coletiva de defesa do ambiente escolar” é insultar a inteligência do leitor.
“Em seu depoimento perante a comissão, a aluna demonstrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse, e estava acompanhada de dois advogados e uma estagiária vinculados a uma rede de televisão.”
R – E daí?
“Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regumento (sic) Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes:
1.
1. Desligar a aluna Geyse Vila Nova Arruda, do quadro de alunos da instituição em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, a dignidade acadêmica, e a moralidade.”
R – “Princípios éticos” que apóiam a barbárie, a agressão e a falta de respeito. “Dignidade acadêmica” que passa por cima da “dignidade da pessoa humana” (prevista na Constituição). Moralidade que respalda a intolerância e o desrespeito pelo outro. Belos princípios estes, hein?
“2. Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente,m (sic) os alunos envolvidos e deviudamente (sic) identificados no incidente.”
R – Usar vestido curto resulta
“Nesse sentido, cabe aqui registrar o estranhamento da UNIBAN diante do comportamento da mídia que, uma vez mais, perde a oportunidade de contribuir para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade.”
R – Eles só se esqueceram que ética, juventude e universidade são temas diretamente ligados a respeito pela diferença, pelos direitos humanos, pela dignidade humana, pela liberdade de ir e vir, pela integridade física e psicológica das pessoas. Essa ética mencionada pela Uniban está mais para conservadorismo hipócrita e violento.
Enfim, o que se pode esperar de uma universidade que endossa um comportamento tão bárbaro dos alunos? Pelo que parece, a Uniban também considera justificáveis agressões e até estupros em situações em que a mulher se veste de forma “inadequada”, não abaixa a cabeça como deveria. Mais uma amostra da sociedade machista em que vivemos, que condena a mulher que sai de “seu devido lugar” (submisso e virginal) e, ao mesmo tempo, que considera que ela deve estar sempre disponível aos apelos sexuais masculinos.
Felizmente a sociedade não está completamente do lado das atrocidades. Essa nota deverá servir de respaldo para que Geyse ganhe uma gorda indenização por danos morais. Os alunos da Uniban vão sofrer preconceito no mercado de trabalho. Acredito que as matrículas também vão cair. Um “tiro no pé” muito bem dado, em nome de uma “ética” burra, que prefere a agressão ao respeito mútuo.
sábado, 24 de outubro de 2009
Gincana da inteligência

Meninas são melhores
Aí vai ter gente que vai perguntar: então quem é mais inteligente, meninos ou meninas? Eu prefiro deixar a questão em aberto, porque qualquer resposta que alguém tente dar vai ser refutada pelo lado “perdedor”. E certamente vai ter o engraçadinho (ou chato de galocha mesmo) que vai falar “é claro que mulher é mais burra, ela tem 16% de neurônios a menos que o homem”. Pois é, mas apesar das brincadeiras infames, as mulheres têm provado que são tão inteligentes quanto eles. Até em matemática ou ciências.
Prova disso é o Nobel deste ano, que premiou cinco mulheres (recorde em relação às outras edições). Carol Greider é uma bióloga que recebeu o Nobel da Medicina, com uma pesquisa sobre a duplicação de cromossomos. Outras quatro pessoas da mesma equipe, incluindo mais uma mulher, levaram a honraria. Em uma entrevista à Folha de São Paulo neste mês, Carol falou da pesquisa, dos avanços e... da pequena quantidade de mulheres em cargos de chefia na área que ela atua, a pesquisa científica.
E nesse ponto voltamos à questão: “serão as mulheres menos capazes de desenvolver estudos científicos e matemáticos do que os homens?” Carol, na entrevista, já esboça uma resposta: um possível preconceito velado em relação a elas, como pequenas restrições que impedem que sejam indicadas para chefia de laboratórios.
Outro ponto que pode explicar o número pouco expressivo do sexo feminino em posições importantes nas áreas da biologia e das ciências exatas é o estímulo cultural que a mulher recebe para as áreas humanas. É como o círculo vicioso onde meninas aprendem a ser professoras e meninos aprendem a ser engenheiros ou médicos. As faculdades de pedagogia e engenharias não me deixam mentir.
Mas isso está mudando, ainda bem! Mulheres ganhando o Nobel, chefiando laboratórios, tendo destaque na matemática... Podemos até ter menos neurônios, mas nossos resultados não ficam atrás! Não que a competição seja a alma do negócio, mas um pouco mais de igualdade não faz mal a ninguém.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
A desonra de ser corno

sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Para não deixar batido...

Um amigo me enviou ontem um texto do Digestivo Cultural, que falava de “gostar de homem”. Achei o tema bom e resolvi escrever sobre ele. O tal artigo falava da importância de “apreciar o homem” do jeito que ele é (barba por fazer, graxa nas mãos, o tal machão), e de como nós, mulheres, somos “culpadas” pelo surgimento dos metrossexuais, que seriam uma decepção para a autora e suas amigas. Ela conta também como os homens passaram a entender as mulheres depois de Vinícius de Moraes. E como as mulheres pararam de entender os homens depois do feminismo. Bom, cada um com sua opinião, claro! Mas não concordei com algumas coisas que ela disse.
Para começar, dizer que os metrossexuais são o oposto do machão é exagero. Explico: esse tal novo homem, junção de metropolitano com heterossexual, é fruto do consumismo moderno, da vaidade excessiva, do individualismo, não de desejo feminino. Os homens passaram a se cuidar mais fisicamente, mas não significa que eles estão ficando mais “sensíveis”. Nada garante que um metrossexual pense de forma diferente de um machão sujo de graxa. É muito possível que a finalidade dos dois seja exatamente a mesma: “pegar mulher”, cada um com seu estilo.
A mulher quer que seu homem seja exatamente como sua melhor amiga? Nem tanto. Pessoas conscientes sabem que cada um deve ter sua maneira de pensar e agir, mas não é pecado algum querer educação, respeito, atenção, consideração, e até um pouco de vaidade no companheiro, por que não? Há certas posturas que não diminuem, ou não deveriam diminuir, a masculinidade ou feminilidade de ninguém. Não é necessário agir como um ogro para ser homem e é isso que todos precisam compreender, já que grande parte deles age como tal para não perder seu caráter masculino diante dos outros.
Ao contrário do que a autora do texto pensa, acredito que os estereótipos só atrapalham nossa vida. São eles que fazem mulheres e homens serem questionados em suas ações diferentes do resto do grupo. E é nesse ponto que fica imperativo a mulher “falar pelos cotovelos” enquanto o homem “conserta a carrapeta da torneira”, mesmo quando isso não diz respeito diretamente a todos integrantes de cada gênero.
Piadas que separam grupos “opostos” (leia aqui um exemplo) não são engraçadas, principalmente porque é nessas brincadeiras que aparecem os preconceitos arraigados em nosso discurso. Tenho certeza que homossexuais não acham piadas de gays engraçadas, assim como eu não acho engraçadas as piadas machistas. Nem toda mulher fala muito, nem todo homem é prático, nem toda mulher chora em filmes e é sensível, nem todo homem tem uma pedra de gelo no lugar do coração, nem toda mulher é perfeccionista e por aí vai. Generalizar é pernicioso e cria uma barreira ainda maior para a lenta mudança pela qual estamos passando atualmente.
Também discordo que os homens se embrenharam tanto no universo feminino. A maioria deles continua achando as mulheres fúteis e interesseiras, que falam pelos cotovelos e gastam tudo no shopping, isso quando não são as mães e donas de casa. O caderno feminino dos jornais ainda continua tendo praticamente só moda, decoração, cuidado com os filhos e com a casa, um pouquinho de carreira, e mais moda. As propagandas de produtos de limpeza na TV ainda colocam a mulher como a responsável pelos cuidados com a casa e com os filhos. Os homens ainda fazem comentários indiscretos nas ruas relacionados ao tamanho de nossas bundas e peitos, sem compreender que, no universo feminino, isso é falta de respeito e educação. Eu posso enumerar várias razões para acreditar que nosso universo está longe de ser admirado e respeitado pelos homens.
Concordo que muitas vezes perdemos nosso interesse pelo masculino ao tentar consertá-lo, mas culpar somente a nós, mulheres, é, no mínimo, aceitar a imposição desse universo sobre nós. Esse é, inclusive, um dos métodos bastante usados na manutenção do sistema patriarcal: culpar a mulher pela própria opressão, pelo próprio sofrimento. Afinal, somos nós que criamos os pequenos machistas, somos nós que os elegemos, nós que nos casamos com eles, nós que persistimos em prosseguir com casamentos falidos e infelizes, nós que não sabemos cuidar de nossos homens, não é? Mas será mesmo que essa culpa é só nossa? Acredito que não. Ninguém faz o mundo sozinho, seja homem ou mulher.
É claro que precisamos respeitar as diferenças entre homens e mulheres, e não só entre eles, e sim entre todas as pessoas de práticas e culturas diferentes. Porém não faz parte dessa aceitação a culpabilização da mulher. Aceitar a diferença não é abaixar a cabeça para imposições de qualquer espécie.
Não creio que mulheres estejam deixando de apreciar o homem, pois, se isso realmente ocorresse, não haveria mais amor, nem esperança de mudar. Ver defeitos não é deixar de admirar, nem de amar. A mudança (de homens e mulheres) é necessária e urgente, se realmente quisermos uma sociedade de pessoas livres de pensamento, de amarras culturais, e de papéis pré-estabelecidos impostos por alguns e seguidos por todos.