sábado, 3 de abril de 2010

Confissões de feminista

Postado por Lu às 20:55 7 comentários

Eu não me lembro bem da série "Confissões de adolescente", que estreou em 1994 na TV Cultura. Só lembro de ter visto alguns episódios nas aulas de educação sexual na sétima série do colégio. Na época, eu achei legal, me identifiquei com a trama baseada no livro homônimo escrito por Maria Mariana. Mas, mesmo assim, nada ficou gravado na memória, talvez apenas o nome da autora e da obra.
Foi meio por acaso que, depois de quase dez anos, ouvi falar novamente de Maria Mariana, hoje aos 36 anos, casada e com quatro filhos. Fiquei sabendo que ela lançou no ano passado o livro "Confissões de mãe" e, ao contrário do efeito da primeira publicação dela, esta parece ser um retrocesso para as mulheres dos anos 2000.
Em uma entrevista dada à revista Época em 2009, a ex-adolescente soltou as maiores barbaridades possíveis sob a justificativa da maternidade. Se ela escolheu ter quatro filhos em sequência e amamentar por nove anos seguidos, tudo bem. Se ela preferiu abandonar a carreira em prol da maternidade, respeito a escolha dela também. O que, na verdade, me incomodou nisso tudo foi a forma como algumas de suas declarações jogaram no lixo décadas de luta para a libertação feminina dos papéis impostos pela sociedade - como a obrigatoriedade de ser mãe, por exemplo.
É uma pena que uma mulher supostamente esclarecida pense que a mulher não pode "ter o leme na mão". Com tantos exemplos de mulheres líderes, bem-sucedidas e, ao mesmo tempo, mães, Maria ignora a capacidade feminina de sustentar e chefiar uma casa. Talvez, vivendo em uma família rica, tendo um marido rico, capaz de sustentar a ela e aos quatro filhos sem ajuda financeira da esposa, ela não conheça (ou não se interesse por conhecer) a realidade de quase 20 milhões de mulheres que são chefes de família no Brasil.
Talvez a família dela não tenha casos de casamentos falidos e mulheres que sofreram devido à falta de amparo, emprego e segurança financeira depois da separação. Ela não deve saber como é um marido jogar na cara da esposa que ela nada mais é do que um peso, que a vida dela é fácil por não trabalhar, que ser dona de casa é menos valioso do que trabalhar fora. Infelizmente a realidade dela está longe de ser a de mulheres comuns.
Se Maria Mariana considera que catar cuecas do marido pela casa é um aprendizado e função da mulher, só posso lamentar e fazer o máximo de propaganda contra este absurdo. Posso também me sentir uma felizarda, afinal, sei que meu futuro marido não vai querer (sequer tentar) me ensinar nada do tipo.
Sou feminista demais para compreender posturas como as de Maria Mariana. E, contrariando a ideia de queimar sutiãs, desta vez, proponho - simbolicamente - jogar na fogueira o livro "Confissões de Mãe". Para alguma coisa ele deve servir, nem que seja aquecer as pessoas quando o inverno chegar.
 

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