sábado, 12 de dezembro de 2009

Animais (Ir)racionais

Postado por Lu às 10:22 2 comentários

Homem é razão e mulher é emoção. São inúmeras as pesquisas “científicas” que tentam comprovar essa falácia, que relega às mulheres o lugar secundário na escala evolutiva e intelectual. Ainda tem muita gente que concorda com isso, como se chorar fosse a única forma de demonstrar emotividade. E “homens não choram”. A eles foi permitida (ou imposta) outra forma de se expressar: a agressividade.


Curiosamente, a raiva expressa em palavras e gestos (pancadas) não costuma ser associada à emoção ou à falta de racionalidade. Na verdade, ser agressivo é considerado (por muitos) como algo natural, inerente ao sexo masculino – heterossexual, de preferência. De fato é muito cômodo jogar tudo nas costas de um destino inevitável, sem se preocupar com o auto-controle, também ensinado em nossa sociedade contraditória. A grande ironia é que os homens, vistos como mais racionais, sucumbem ao poder de sua “natureza” agressiva, tão emotiva quanto a de crianças que não sabem perder, nem dividir.


O futebol é uma fonte inesgotável de exemplos que mostram como o homem racional pode se tornar um neandertal, com direito a porrete na mão. O Campeonato Brasileiro recém acabado foi um show de horrores nesse sentido, principalmente nas semanas finais. Jogadores trocando sopapos em campo e nos treinos, torcedores agredindo jogador no meio da rua porque este não faz mais gols. E, por fim, torcidas organizadas da barbárie. Uma, do Coritiba – agora na segunda divisão, que invadiu o campo, enfrentou policiais e tentou bater em todo mundo que poderia ser visto como “culpado” pela derrota. A outra, do Flamengo - campeão deste ano, que surpreendentemente espancou torcedores do mesmo time, paralelamente à festa do título.


Duas pontas de um mesmo problema, muito mais relacionado ao modelo hegemônico e esmagador de masculinidade “ideal” (o homem com H maiúsculo) do que ao excesso de testosterona. Enquanto o futebol é coisa de “macho”, em que mulheres e homossexuais só servem como ofensa e chacota, a “racionalidade da pancada” parece perdurar. E o mais duro, além de ver gente se matando por um jogo que em nada muda a vida dos torcedores, é continuar ouvindo a balela de que racionais mesmo são eles.

domingo, 8 de novembro de 2009

Baderna na Uniban

Postado por Lu às 10:29 6 comentários

Por um breve momento, achei que tinha perdido a oportunidade de comentar o lamentável incidente ocorrido no dia 22 de outubro, quando alunos da Uniban (Universidade Bandeirante) do ABC paulista quase lincharam uma colega por causa de um vestido curto.

Mas uma última novidade neste final de semana retoma todos os pontos levantados até agora e dá um “grand finale” de cair o queixo: a moça agredida foi EXPULSA da universidade. Pois é, o preconceito e o machismo foram institucionalizados.

Em nota, a Uniban divulgou o desligamento da aluna Geyse, 20 anos, do curso de Turismo, por considerar que ela provocou a situação. Para eles, uma moça é perseguida, insultada, exposta ao país inteiro, ameaçada de agressão e estupro e, finalmente, é a responsável por tudo isso. Chocante!

Resolvi pegar a tal nota da Uniban e destrinchar seus argumentos. Vamos lá:

“RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL

A educação se faz com atitude e não com complacência

R – Título e subtítulo que, a princípio, dariam a entender que os agressores seriam punidos severamente. Ledo engano.

“Foi apurado que a alune (sic) tem freqüentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento.”

R – A Uniban não esclarece quais trajes seriam “adequados”. A universidade também não evidencia se há, de fato, regras que determinam as vestimentas próprias dos alunos. Se não há tal documento, como estabelecer um padrão de trajes?


”A sindicância apurou que, no dia da ocorrência dos fatos, a aluna fez um percurso maior do que o habitual, aumentando sua exposição e ensejando, de forma explícita, os apelos de alunos que manifestavam em relação à sua postura, chegando, inclusive, a posar para fotos.”

R – Parece piada! Agora andar, passear, matar aula, bater papo no corredor, ir ao banheiro mais longe, tudo isso pode ser “exposição” e justificativa para linchamento. Ela posou para fotos? Nossa, que crime!


”Novamente, a aluna optou por um percurso maior ao se dirigir ao toalete, o que alimentou a curiosidade e o interesse de mais alunos e alunas, tendo início, então, uma aglomeração em frente ao local.”

R – Uma hipocrisia sem tamanho de quem vê mini-saias todo dia na rua e na TV. Além disso, as aulas eram menos importantes que uma mini-saia alheia, pelo que parece.

“Depoimentos de colegas indicam que, no interior do toalete feminino, a aluna se negou a complementar sua vestimenta para desfazer o clima que se havia criado.”

R –Se houvesse educação e respeito por parte dos alunos e funcionários, o “clima” sequer teria surgido.

“Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”

R – Ponto 1) Se a moça não insultou, nem agrediu ninguém, qual é o problema de querer “chamar a atenção”? Ela tem todo o direito de usar roupas que a fazem se sentir bonita, desejada. A moda existe para isso!

Ponto 2) Chamar aquela algazarra misturada com linchamento de “reação coletiva de defesa do ambiente escolar” é insultar a inteligência do leitor.

“Em seu depoimento perante a comissão, a aluna demonstrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse, e estava acompanhada de dois advogados e uma estagiária vinculados a uma rede de televisão.”

R – E daí?

“Diante de todos os fatos apurados pela comissão de sindicância, o Conselho Superior, amparado pelo relatório apresentado e nos termos do Regumento (sic) Interno, decidiu, com base no Capítulo IV – Regime Disciplinar, artigos 215 e seguintes:

1.
1. Desligar a aluna Geyse Vila Nova Arruda, do quadro de alunos da instituição em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, a dignidade acadêmica, e a moralidade.”

R – “Princípios éticos” que apóiam a barbárie, a agressão e a falta de respeito. “Dignidade acadêmica” que passa por cima da “dignidade da pessoa humana” (prevista na Constituição). Moralidade que respalda a intolerância e o desrespeito pelo outro. Belos princípios estes, hein?

“2. Suspender das atividades acadêmicas, temporariamente,m (sic) os alunos envolvidos e deviudamente (sic) identificados no incidente.”

R – Usar vestido curto resulta em expulsão. Insultar, ameaçar, agredir, perseguir alguém resultam em suspensão. É impressão minha, ou esse texto cheira a hipocrisia?

“Nesse sentido, cabe aqui registrar o estranhamento da UNIBAN diante do comportamento da mídia que, uma vez mais, perde a oportunidade de contribuir para um debate sério e equilibrado sobre temas fundamentais como ética, juventude e universidade.

R – Eles só se esqueceram que ética, juventude e universidade são temas diretamente ligados a respeito pela diferença, pelos direitos humanos, pela dignidade humana, pela liberdade de ir e vir, pela integridade física e psicológica das pessoas. Essa ética mencionada pela Uniban está mais para conservadorismo hipócrita e violento.

Enfim, o que se pode esperar de uma universidade que endossa um comportamento tão bárbaro dos alunos? Pelo que parece, a Uniban também considera justificáveis agressões e até estupros em situações em que a mulher se veste de forma “inadequada”, não abaixa a cabeça como deveria. Mais uma amostra da sociedade machista em que vivemos, que condena a mulher que sai de “seu devido lugar” (submisso e virginal) e, ao mesmo tempo, que considera que ela deve estar sempre disponível aos apelos sexuais masculinos.

Felizmente a sociedade não está completamente do lado das atrocidades. Essa nota deverá servir de respaldo para que Geyse ganhe uma gorda indenização por danos morais. Os alunos da Uniban vão sofrer preconceito no mercado de trabalho. Acredito que as matrículas também vão cair. Um “tiro no pé” muito bem dado, em nome de uma “ética” burra, que prefere a agressão ao respeito mútuo.

sábado, 24 de outubro de 2009

Gincana da inteligência

Postado por Lu às 18:17 1 comentários

Meninas são melhores em português. Meninos são melhores em matemática. Quem diz que nunca ouviu falar nessa comparação está mentindo. Muitos recorrem à genética para justificar a diferença, mas essa ideia já está sendo derrubada. Dados recentes mostram que o desempenho delas está se aproximando do deles em matemática. Curiosamente, eles não estão acompanhando o desempenho delas em português (historicamente melhor) e a diferença entre os gêneros tem aumentado nessa área. Xiii...

Aí vai ter gente que vai perguntar: então quem é mais inteligente, meninos ou meninas? Eu prefiro deixar a questão em aberto, porque qualquer resposta que alguém tente dar vai ser refutada pelo lado “perdedor”. E certamente vai ter o engraçadinho (ou chato de galocha mesmo) que vai falar “é claro que mulher é mais burra, ela tem 16% de neurônios a menos que o homem”. Pois é, mas apesar das brincadeiras infames, as mulheres têm provado que são tão inteligentes quanto eles. Até em matemática ou ciências.

Prova disso é o Nobel deste ano, que premiou cinco mulheres (recorde em relação às outras edições). Carol Greider é uma bióloga que recebeu o Nobel da Medicina, com uma pesquisa sobre a duplicação de cromossomos. Outras quatro pessoas da mesma equipe, incluindo mais uma mulher, levaram a honraria. Em uma entrevista à Folha de São Paulo neste mês, Carol falou da pesquisa, dos avanços e... da pequena quantidade de mulheres em cargos de chefia na área que ela atua, a pesquisa científica.

E nesse ponto voltamos à questão: “serão as mulheres menos capazes de desenvolver estudos científicos e matemáticos do que os homens?” Carol, na entrevista, já esboça uma resposta: um possível preconceito velado em relação a elas, como pequenas restrições que impedem que sejam indicadas para chefia de laboratórios.

Outro ponto que pode explicar o número pouco expressivo do sexo feminino em posições importantes nas áreas da biologia e das ciências exatas é o estímulo cultural que a mulher recebe para as áreas humanas. É como o círculo vicioso onde meninas aprendem a ser professoras e meninos aprendem a ser engenheiros ou médicos. As faculdades de pedagogia e engenharias não me deixam mentir.

Mas isso está mudando, ainda bem! Mulheres ganhando o Nobel, chefiando laboratórios, tendo destaque na matemática... Podemos até ter menos neurônios, mas nossos resultados não ficam atrás! Não que a competição seja a alma do negócio, mas um pouco mais de igualdade não faz mal a ninguém.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A desonra de ser corno

Postado por Lu às 19:24 0 comentários

Fiquei muito surpresa com a sentença dada por um juiz carioca sobre o processo que um homem moveu contra o amante de sua esposa. Ao descobrir a traição, o marido – que é policial federal – telefonou para o “ricardão” para ordenar que largasse a mulher. Não satisfeito, ameaçou o outro e, em troca, foi denunciado pelo rival aos colegas policiais, por causa da ameaça. Ao ver sua vida pessoal virando assunto (e piada) no ambiente de trabalho, o marido traído não hesitou em processar o amante da esposa por danos morais.
O que ele não esperava era o teor da sentença do magistrado, que, além de desconsiderar o pedido de indenização, ainda fez um discurso em defesa da mulher que, no julgamento dele, só traiu pela negligência do marido, transformando-o em um “solene corno”.
Não digo que concordei com a postura do juiz de fazer tantas elucubrações a respeito da traição feminina em um documento de cunho jurídico, mas concordo que a ação por danos morais foi, no mínimo, exagerada. Após ameaçar o outro, o marido perdeu a razão, pois, naquele momento, não estava lutando pelo amor da esposa, mas para resgatar seu orgulho de macho.
Não vou entrar no mérito das razões dela ter traído, afinal todo ser humano pode passar por isso, seja por motivos emocionais, seja por atração física pura. Também não vou julgar o amante, que topou ir para a cama com uma mulher casada... Cada um sabe de si. Nem estou culpando o marido pela traição da esposa. Tampouco sou defensora da infidelidade.
O ponto mais importante dessa querela é o valor que os homens dão aos “chifres”, como se fossem um medidor de masculinidade ou de competência. Se para a mulher a traição do parceiro é, geralmente, motivo de tristeza e ciúmes, para o homem, é também uma questão de honra, às vezes mais relevante do que de amor propriamente dito. Quem nunca ouviu falar no “corno” que aceita a situação, contanto que ninguém saiba? Assim, o perdão pode se tornar mais dificil para eles, pois nem o amor seria capaz de apagar a vergonha de ser corno.
E de onde vem essa ideia maluca? Não é preciso pensar muito para entender a raiz do problema. Desde sempre o homem “de verdade” é medido pela sua potência sexual, pelo controle que exerce sobre sua(s) mulher(es), pela sua virilidade. Homem com H maiúsculo não nega fogo, pensa em sexo o tempo todo, não faz serviço doméstico, pega qualquer mulher que “der mole”, é um mestre dos lençóis, não dá motivos para a mulher pular a cerca, não chora, não tem impotência, não sente dor. Mas o que ainda não perceberam foi que esse homem é uma ilusão, que muitos querem tornar realidade sob pena de serem infelizes tentando corresponder a um modelo inalcansável de Super-Homem.
O corno, como o homossexual, é entendido (inconscientemente) como um homem que não vingou, que fracassou em desempenhar o papel esperado, se tornou passivo em uma relação em que a mulher “tomou seu lugar” de potência sexual. O corno, nesse sentido, seria menos homem, porque não conseguiu “manter as rédeas” da mulher. Por isso o traído em questão preferiu processar o amante, como se quisesse se vingar do “homem que não conseguiu ser”. No dia em que os homens sofrerem com uma traição por ciúmes, e não por desonra, talvez não serão mais chamados de “solenes cornos”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para não deixar batido...

Postado por Lu às 10:06 2 comentários

Um amigo me enviou ontem um texto do Digestivo Cultural, que falava de “gostar de homem”. Achei o tema bom e resolvi escrever sobre ele. O tal artigo falava da importância de “apreciar o homem” do jeito que ele é (barba por fazer, graxa nas mãos, o tal machão), e de como nós, mulheres, somos “culpadas” pelo surgimento dos metrossexuais, que seriam uma decepção para a autora e suas amigas. Ela conta também como os homens passaram a entender as mulheres depois de Vinícius de Moraes. E como as mulheres pararam de entender os homens depois do feminismo. Bom, cada um com sua opinião, claro! Mas não concordei com algumas coisas que ela disse.

Para começar, dizer que os metrossexuais são o oposto do machão é exagero. Explico: esse tal novo homem, junção de metropolitano com heterossexual, é fruto do consumismo moderno, da vaidade excessiva, do individualismo, não de desejo feminino. Os homens passaram a se cuidar mais fisicamente, mas não significa que eles estão ficando mais “sensíveis”. Nada garante que um metrossexual pense de forma diferente de um machão sujo de graxa. É muito possível que a finalidade dos dois seja exatamente a mesma: “pegar mulher”, cada um com seu estilo.

A mulher quer que seu homem seja exatamente como sua melhor amiga? Nem tanto. Pessoas conscientes sabem que cada um deve ter sua maneira de pensar e agir, mas não é pecado algum querer educação, respeito, atenção, consideração, e até um pouco de vaidade no companheiro, por que não? Há certas posturas que não diminuem, ou não deveriam diminuir, a masculinidade ou feminilidade de ninguém. Não é necessário agir como um ogro para ser homem e é isso que todos precisam compreender, já que grande parte deles age como tal para não perder seu caráter masculino diante dos outros.

Ao contrário do que a autora do texto pensa, acredito que os estereótipos só atrapalham nossa vida. São eles que fazem mulheres e homens serem questionados em suas ações diferentes do resto do grupo. E é nesse ponto que fica imperativo a mulher “falar pelos cotovelos” enquanto o homem “conserta a carrapeta da torneira”, mesmo quando isso não diz respeito diretamente a todos integrantes de cada gênero.

Piadas que separam grupos “opostos” (leia aqui um exemplo) não são engraçadas, principalmente porque é nessas brincadeiras que aparecem os preconceitos arraigados em nosso discurso. Tenho certeza que homossexuais não acham piadas de gays engraçadas, assim como eu não acho engraçadas as piadas machistas. Nem toda mulher fala muito, nem todo homem é prático, nem toda mulher chora em filmes e é sensível, nem todo homem tem uma pedra de gelo no lugar do coração, nem toda mulher é perfeccionista e por aí vai. Generalizar é pernicioso e cria uma barreira ainda maior para a lenta mudança pela qual estamos passando atualmente.

Também discordo que os homens se embrenharam tanto no universo feminino. A maioria deles continua achando as mulheres fúteis e interesseiras, que falam pelos cotovelos e gastam tudo no shopping, isso quando não são as mães e donas de casa. O caderno feminino dos jornais ainda continua tendo praticamente só moda, decoração, cuidado com os filhos e com a casa, um pouquinho de carreira, e mais moda. As propagandas de produtos de limpeza na TV ainda colocam a mulher como a responsável pelos cuidados com a casa e com os filhos. Os homens ainda fazem comentários indiscretos nas ruas relacionados ao tamanho de nossas bundas e peitos, sem compreender que, no universo feminino, isso é falta de respeito e educação. Eu posso enumerar várias razões para acreditar que nosso universo está longe de ser admirado e respeitado pelos homens.

Concordo que muitas vezes perdemos nosso interesse pelo masculino ao tentar consertá-lo, mas culpar somente a nós, mulheres, é, no mínimo, aceitar a imposição desse universo sobre nós. Esse é, inclusive, um dos métodos bastante usados na manutenção do sistema patriarcal: culpar a mulher pela própria opressão, pelo próprio sofrimento. Afinal, somos nós que criamos os pequenos machistas, somos nós que os elegemos, nós que nos casamos com eles, nós que persistimos em prosseguir com casamentos falidos e infelizes, nós que não sabemos cuidar de nossos homens, não é? Mas será mesmo que essa culpa é só nossa? Acredito que não. Ninguém faz o mundo sozinho, seja homem ou mulher.

É claro que precisamos respeitar as diferenças entre homens e mulheres, e não só entre eles, e sim entre todas as pessoas de práticas e culturas diferentes. Porém não faz parte dessa aceitação a culpabilização da mulher. Aceitar a diferença não é abaixar a cabeça para imposições de qualquer espécie.

Não creio que mulheres estejam deixando de apreciar o homem, pois, se isso realmente ocorresse, não haveria mais amor, nem esperança de mudar. Ver defeitos não é deixar de admirar, nem de amar. A mudança (de homens e mulheres) é necessária e urgente, se realmente quisermos uma sociedade de pessoas livres de pensamento, de amarras culturais, e de papéis pré-estabelecidos impostos por alguns e seguidos por todos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Números do abandono

Postado por Lu às 20:35 0 comentários
Participar de reuniões do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade é sempre um grande aprendizado. Lá a gente leva um choque de realidade, vê que o mundo não é só nosso umbigo. E todas as vezes que compareci, percebi um mesmo padrão: a maioria dos presentes era de mulheres, quase todas mães e esposas. Não é coincidência.

Segundo a Defensoria Pública de Minas Gerais, o número de presos brasileiros dobrou nos últimos oito anos. Em 2000, eram 232 mil, em dezembro do ano passado o número já correspondia a 446 mil. Apesar da população carcerária feminina também ter crescido de forma muito acelerada recentemente (também em oito anos, passou de cerca de 14 mil para quase 27 mil, em 2007), o número de presos homens é bem maior. Talvez esta seja uma explicação para a presença de tantas mulheres no Grupo.

Mas um fato, infelizmente, não se pode negar. As mulheres presas sofrem de um abandono muito maior que os homens. Dados de 2008 do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) mostraram que 62% das presas não recebem visitas sociais e somente 9% recebem visitas íntimas. No quadro masculino, somente 20% não recebem visitas. Não só as visitas param, como relacionamentos acabam com a prisão das mulheres. Homens não se mantém fiéis e rapidamente arrumam outras parceiras, como disse uma assistente social de um presídio feminino em Ribeirão das Neves.
As presas são afastadas dos filhos e, em geral, são amparadas apenas por suas mães. Enquanto isso, nos presídios masculinos as filas começam a se formar na noite anterior à visita. As visitantes enfrentam chuva, frio, vento, sol, calor para darem apoio a quem está “na tranca”. Algumas mulheres se correspondem por carta com presidiários que nunca viram, na esperança de encontrar um amor. Outras mulheres levam seus filhos pequenos para visitar o pai deles na prisão. E outras, ainda, vão para ver seus próprios filhos. Homens nas filas de presídios femininos e masculinos existem, mas são menos numerosos, sejam eles maridos, pais ou irmãos.

Não pretendo fazer julgamentos sobre o assunto, nem levantar hipóteses sobre o motivo que leva os homens a largarem suas mulheres em momentos de prisão, enquanto o contrário normalmente não ocorre. Quero apenas registrar e compartilhar a tristeza de ver esta realidade, que aparece nas filas dos presídios, nos grupos de apoio a presos e seus familiares, nas pesquisas feitas pelos órgãos relacionados ao sistema prisional. Quem sabe, um dia, essa preocupação e companheirismo se tornem os mesmo para homens e mulheres?

sábado, 5 de setembro de 2009

A era dos machões

Postado por Lu às 13:01 1 comentários

Homem agride mulher por causa de frango congelado. Parece até piada, mas é verdade. Essa notícia ilustra mais uma vez a situação díspar que ainda existe entre homens e mulheres. Homem + álcool + mulher + cultura machista= agressão.

Infelizmente esta equação ainda faz sentido e nem sempre é necessário o álcool para ativar o composto explosivo. Desde a década de 60 nós, mulheres, conquistamos muita coisa com o avanço do movimento feminista, é verdade. Mas quem afirma que a igualdade está alcançada ou é ingênuo ou quer que nós acreditemos nisso e paremos de lutar por mais.

A lei Maria da Penha, na qual foi enquadrado o agressor, é o mínimo que podemos esperar para combater esse tipo de atitude tão comum aqui no Brasil e no mundo.
Um exemplo internacional bem “célebre” é o caso do cantor americano Chris Brown, que espancou a namorada, também famosa, Rihanna e agora foi condenado a pagar condicional. Pelo menos, né?

Aí a gente se pergunta, de onde vem essa violência? Por que alguns homens se sentem no direito de bater na namorada, ficante, esposa, amante? Tem gente que coloca a culpa na testosterona, mas as coisas não são tão simples. Ao agredir uma mulher, o homem não está simplesmente “fora do controle”, bêbado, ou de cabeça quente. No fundo, quase que inconscientemente, ele está expressando aquilo que vemos e "aprendemos” todos os dias: a mulher deve estar sempre disponível para o homem.

Não é exagero. Pare e tente se lembrar:

Mulher, quantas vezes você foi xingada ou agredida de alguma forma quando disse “não” a algum homem inconveniente em uma festa, por exemplo?

Homem, quantas vezes você xingou (ou ficou morrendo de raiva) depois de levar um fora?

Aposto que a maioria já passou por isso pelo menos uma vez na vida, ou, no mínimo, conhece alguém que já teve esse tipo de experiência. O mesmo ocorre quando algum engraçadinho mexe com a mulher na rua. O último direito que ela tem (na cabeça dele) é revidar os comentários tantas vezes desrespeitosos. Muita gente pode até dizer que é brincadeira, mas eles ainda não perceberam que isso é tão sem graça que quase nenhuma mulher acha legal.

Os casos mais extremos culminam em agressões físicas e mortes, como as que aparecem frequentemente nos noticiários. Infelizmente, a lógica é a mesma: mulher está lá é para servir, seja de empregada, seja de objeto sexual, seja de mãe, do que for. É a triste realidade do pensamento machista de que "se o homem não sabe por que está batendo, a mulher sabe por que está apanhando".

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Parto...

Postado por Lu às 15:51 1 comentários













Nada mais oportuno para começar um blog com esse nome do que a notícia de uma atleta sul-africana que tem sua feminilidade questionada. A Iaaf (Federação Internacional de Atletismo) duvidou que Caster Semenya (foto) seja realmente mulher e, antes do Mundial de atletismo em Berlim, pediu exames e informações sobre a atleta á federação sul-africana.

A moça de 18 anos concorreu à prova e venceu os 800m com uma diferença enorme para a segunda colocada. Mas isso não é o ponto principal da questão. O ponto chave nessa querela é a definição de feminilidade. Falou-se que ela tem mais testosterona (o hormônio masculino) no corpo e por isso é mais forte e veloz do que as outras adversárias. Mas será que ela se torna um homem só por ter esse tipo de hormônio em maior quantidade? Pode até ser que isso se mostra uma vantagem conveniente para o atletismo, porém, se é uma característica física dela, não introduzida artificialmente (como dopping), qual o problema?

Em uma competição esportiva, o fator biológico realmente deve contar, mas sendo assim, seria melhor se restringir ao órgão sexual, assim como fazem com a gente na barriga da mãe e definem se “é menino ou menina”. Ser mulher está muito além da vagina, dos seios, progesterona, menstruação, gravidez, TPM, maquiagem, bolsas e sapatos, moda ou qualquer item associado a nós, como se fôssemos pré-determinadas pela genética ou pelos hormônios.

Questionar se a sul-africana é mulher de verdade abre margem para perguntarmos “o que é, afinal, ser uma mulher de verdade?”, e um problema ainda maior: será que temos condições de responder a tal pergunta? Aos dispostos a procurar a resposta, boa sorte.

 

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