sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para não deixar batido...

Postado por Lu às 10:06

Um amigo me enviou ontem um texto do Digestivo Cultural, que falava de “gostar de homem”. Achei o tema bom e resolvi escrever sobre ele. O tal artigo falava da importância de “apreciar o homem” do jeito que ele é (barba por fazer, graxa nas mãos, o tal machão), e de como nós, mulheres, somos “culpadas” pelo surgimento dos metrossexuais, que seriam uma decepção para a autora e suas amigas. Ela conta também como os homens passaram a entender as mulheres depois de Vinícius de Moraes. E como as mulheres pararam de entender os homens depois do feminismo. Bom, cada um com sua opinião, claro! Mas não concordei com algumas coisas que ela disse.

Para começar, dizer que os metrossexuais são o oposto do machão é exagero. Explico: esse tal novo homem, junção de metropolitano com heterossexual, é fruto do consumismo moderno, da vaidade excessiva, do individualismo, não de desejo feminino. Os homens passaram a se cuidar mais fisicamente, mas não significa que eles estão ficando mais “sensíveis”. Nada garante que um metrossexual pense de forma diferente de um machão sujo de graxa. É muito possível que a finalidade dos dois seja exatamente a mesma: “pegar mulher”, cada um com seu estilo.

A mulher quer que seu homem seja exatamente como sua melhor amiga? Nem tanto. Pessoas conscientes sabem que cada um deve ter sua maneira de pensar e agir, mas não é pecado algum querer educação, respeito, atenção, consideração, e até um pouco de vaidade no companheiro, por que não? Há certas posturas que não diminuem, ou não deveriam diminuir, a masculinidade ou feminilidade de ninguém. Não é necessário agir como um ogro para ser homem e é isso que todos precisam compreender, já que grande parte deles age como tal para não perder seu caráter masculino diante dos outros.

Ao contrário do que a autora do texto pensa, acredito que os estereótipos só atrapalham nossa vida. São eles que fazem mulheres e homens serem questionados em suas ações diferentes do resto do grupo. E é nesse ponto que fica imperativo a mulher “falar pelos cotovelos” enquanto o homem “conserta a carrapeta da torneira”, mesmo quando isso não diz respeito diretamente a todos integrantes de cada gênero.

Piadas que separam grupos “opostos” (leia aqui um exemplo) não são engraçadas, principalmente porque é nessas brincadeiras que aparecem os preconceitos arraigados em nosso discurso. Tenho certeza que homossexuais não acham piadas de gays engraçadas, assim como eu não acho engraçadas as piadas machistas. Nem toda mulher fala muito, nem todo homem é prático, nem toda mulher chora em filmes e é sensível, nem todo homem tem uma pedra de gelo no lugar do coração, nem toda mulher é perfeccionista e por aí vai. Generalizar é pernicioso e cria uma barreira ainda maior para a lenta mudança pela qual estamos passando atualmente.

Também discordo que os homens se embrenharam tanto no universo feminino. A maioria deles continua achando as mulheres fúteis e interesseiras, que falam pelos cotovelos e gastam tudo no shopping, isso quando não são as mães e donas de casa. O caderno feminino dos jornais ainda continua tendo praticamente só moda, decoração, cuidado com os filhos e com a casa, um pouquinho de carreira, e mais moda. As propagandas de produtos de limpeza na TV ainda colocam a mulher como a responsável pelos cuidados com a casa e com os filhos. Os homens ainda fazem comentários indiscretos nas ruas relacionados ao tamanho de nossas bundas e peitos, sem compreender que, no universo feminino, isso é falta de respeito e educação. Eu posso enumerar várias razões para acreditar que nosso universo está longe de ser admirado e respeitado pelos homens.

Concordo que muitas vezes perdemos nosso interesse pelo masculino ao tentar consertá-lo, mas culpar somente a nós, mulheres, é, no mínimo, aceitar a imposição desse universo sobre nós. Esse é, inclusive, um dos métodos bastante usados na manutenção do sistema patriarcal: culpar a mulher pela própria opressão, pelo próprio sofrimento. Afinal, somos nós que criamos os pequenos machistas, somos nós que os elegemos, nós que nos casamos com eles, nós que persistimos em prosseguir com casamentos falidos e infelizes, nós que não sabemos cuidar de nossos homens, não é? Mas será mesmo que essa culpa é só nossa? Acredito que não. Ninguém faz o mundo sozinho, seja homem ou mulher.

É claro que precisamos respeitar as diferenças entre homens e mulheres, e não só entre eles, e sim entre todas as pessoas de práticas e culturas diferentes. Porém não faz parte dessa aceitação a culpabilização da mulher. Aceitar a diferença não é abaixar a cabeça para imposições de qualquer espécie.

Não creio que mulheres estejam deixando de apreciar o homem, pois, se isso realmente ocorresse, não haveria mais amor, nem esperança de mudar. Ver defeitos não é deixar de admirar, nem de amar. A mudança (de homens e mulheres) é necessária e urgente, se realmente quisermos uma sociedade de pessoas livres de pensamento, de amarras culturais, e de papéis pré-estabelecidos impostos por alguns e seguidos por todos.

2 comentários:

Otavio Cohen on 3 de outubro de 2009 às 21:09 disse...

grande reflexão, luciana! Realmente, qualquer estereótipo cansa e qualquer unanimidade é burra. De repente faz sentido uma frase idiota que ouvi outro dia: os seres humanos só têm uma coisa em comum -> são todos diferentes ;)

Ismael dos Anjos on 25 de outubro de 2009 às 15:43 disse...

Apesar de entender e concordar com alguns pontos da reflexão, ainda gosto e estou mais de acordo com o hilário texto original.
C'est la vie!

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