quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A desonra de ser corno

Postado por Lu às 19:24

Fiquei muito surpresa com a sentença dada por um juiz carioca sobre o processo que um homem moveu contra o amante de sua esposa. Ao descobrir a traição, o marido – que é policial federal – telefonou para o “ricardão” para ordenar que largasse a mulher. Não satisfeito, ameaçou o outro e, em troca, foi denunciado pelo rival aos colegas policiais, por causa da ameaça. Ao ver sua vida pessoal virando assunto (e piada) no ambiente de trabalho, o marido traído não hesitou em processar o amante da esposa por danos morais.
O que ele não esperava era o teor da sentença do magistrado, que, além de desconsiderar o pedido de indenização, ainda fez um discurso em defesa da mulher que, no julgamento dele, só traiu pela negligência do marido, transformando-o em um “solene corno”.
Não digo que concordei com a postura do juiz de fazer tantas elucubrações a respeito da traição feminina em um documento de cunho jurídico, mas concordo que a ação por danos morais foi, no mínimo, exagerada. Após ameaçar o outro, o marido perdeu a razão, pois, naquele momento, não estava lutando pelo amor da esposa, mas para resgatar seu orgulho de macho.
Não vou entrar no mérito das razões dela ter traído, afinal todo ser humano pode passar por isso, seja por motivos emocionais, seja por atração física pura. Também não vou julgar o amante, que topou ir para a cama com uma mulher casada... Cada um sabe de si. Nem estou culpando o marido pela traição da esposa. Tampouco sou defensora da infidelidade.
O ponto mais importante dessa querela é o valor que os homens dão aos “chifres”, como se fossem um medidor de masculinidade ou de competência. Se para a mulher a traição do parceiro é, geralmente, motivo de tristeza e ciúmes, para o homem, é também uma questão de honra, às vezes mais relevante do que de amor propriamente dito. Quem nunca ouviu falar no “corno” que aceita a situação, contanto que ninguém saiba? Assim, o perdão pode se tornar mais dificil para eles, pois nem o amor seria capaz de apagar a vergonha de ser corno.
E de onde vem essa ideia maluca? Não é preciso pensar muito para entender a raiz do problema. Desde sempre o homem “de verdade” é medido pela sua potência sexual, pelo controle que exerce sobre sua(s) mulher(es), pela sua virilidade. Homem com H maiúsculo não nega fogo, pensa em sexo o tempo todo, não faz serviço doméstico, pega qualquer mulher que “der mole”, é um mestre dos lençóis, não dá motivos para a mulher pular a cerca, não chora, não tem impotência, não sente dor. Mas o que ainda não perceberam foi que esse homem é uma ilusão, que muitos querem tornar realidade sob pena de serem infelizes tentando corresponder a um modelo inalcansável de Super-Homem.
O corno, como o homossexual, é entendido (inconscientemente) como um homem que não vingou, que fracassou em desempenhar o papel esperado, se tornou passivo em uma relação em que a mulher “tomou seu lugar” de potência sexual. O corno, nesse sentido, seria menos homem, porque não conseguiu “manter as rédeas” da mulher. Por isso o traído em questão preferiu processar o amante, como se quisesse se vingar do “homem que não conseguiu ser”. No dia em que os homens sofrerem com uma traição por ciúmes, e não por desonra, talvez não serão mais chamados de “solenes cornos”.

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