sábado, 24 de outubro de 2009

Gincana da inteligência

Postado por Lu às 18:17 1 comentários

Meninas são melhores em português. Meninos são melhores em matemática. Quem diz que nunca ouviu falar nessa comparação está mentindo. Muitos recorrem à genética para justificar a diferença, mas essa ideia já está sendo derrubada. Dados recentes mostram que o desempenho delas está se aproximando do deles em matemática. Curiosamente, eles não estão acompanhando o desempenho delas em português (historicamente melhor) e a diferença entre os gêneros tem aumentado nessa área. Xiii...

Aí vai ter gente que vai perguntar: então quem é mais inteligente, meninos ou meninas? Eu prefiro deixar a questão em aberto, porque qualquer resposta que alguém tente dar vai ser refutada pelo lado “perdedor”. E certamente vai ter o engraçadinho (ou chato de galocha mesmo) que vai falar “é claro que mulher é mais burra, ela tem 16% de neurônios a menos que o homem”. Pois é, mas apesar das brincadeiras infames, as mulheres têm provado que são tão inteligentes quanto eles. Até em matemática ou ciências.

Prova disso é o Nobel deste ano, que premiou cinco mulheres (recorde em relação às outras edições). Carol Greider é uma bióloga que recebeu o Nobel da Medicina, com uma pesquisa sobre a duplicação de cromossomos. Outras quatro pessoas da mesma equipe, incluindo mais uma mulher, levaram a honraria. Em uma entrevista à Folha de São Paulo neste mês, Carol falou da pesquisa, dos avanços e... da pequena quantidade de mulheres em cargos de chefia na área que ela atua, a pesquisa científica.

E nesse ponto voltamos à questão: “serão as mulheres menos capazes de desenvolver estudos científicos e matemáticos do que os homens?” Carol, na entrevista, já esboça uma resposta: um possível preconceito velado em relação a elas, como pequenas restrições que impedem que sejam indicadas para chefia de laboratórios.

Outro ponto que pode explicar o número pouco expressivo do sexo feminino em posições importantes nas áreas da biologia e das ciências exatas é o estímulo cultural que a mulher recebe para as áreas humanas. É como o círculo vicioso onde meninas aprendem a ser professoras e meninos aprendem a ser engenheiros ou médicos. As faculdades de pedagogia e engenharias não me deixam mentir.

Mas isso está mudando, ainda bem! Mulheres ganhando o Nobel, chefiando laboratórios, tendo destaque na matemática... Podemos até ter menos neurônios, mas nossos resultados não ficam atrás! Não que a competição seja a alma do negócio, mas um pouco mais de igualdade não faz mal a ninguém.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A desonra de ser corno

Postado por Lu às 19:24 0 comentários

Fiquei muito surpresa com a sentença dada por um juiz carioca sobre o processo que um homem moveu contra o amante de sua esposa. Ao descobrir a traição, o marido – que é policial federal – telefonou para o “ricardão” para ordenar que largasse a mulher. Não satisfeito, ameaçou o outro e, em troca, foi denunciado pelo rival aos colegas policiais, por causa da ameaça. Ao ver sua vida pessoal virando assunto (e piada) no ambiente de trabalho, o marido traído não hesitou em processar o amante da esposa por danos morais.
O que ele não esperava era o teor da sentença do magistrado, que, além de desconsiderar o pedido de indenização, ainda fez um discurso em defesa da mulher que, no julgamento dele, só traiu pela negligência do marido, transformando-o em um “solene corno”.
Não digo que concordei com a postura do juiz de fazer tantas elucubrações a respeito da traição feminina em um documento de cunho jurídico, mas concordo que a ação por danos morais foi, no mínimo, exagerada. Após ameaçar o outro, o marido perdeu a razão, pois, naquele momento, não estava lutando pelo amor da esposa, mas para resgatar seu orgulho de macho.
Não vou entrar no mérito das razões dela ter traído, afinal todo ser humano pode passar por isso, seja por motivos emocionais, seja por atração física pura. Também não vou julgar o amante, que topou ir para a cama com uma mulher casada... Cada um sabe de si. Nem estou culpando o marido pela traição da esposa. Tampouco sou defensora da infidelidade.
O ponto mais importante dessa querela é o valor que os homens dão aos “chifres”, como se fossem um medidor de masculinidade ou de competência. Se para a mulher a traição do parceiro é, geralmente, motivo de tristeza e ciúmes, para o homem, é também uma questão de honra, às vezes mais relevante do que de amor propriamente dito. Quem nunca ouviu falar no “corno” que aceita a situação, contanto que ninguém saiba? Assim, o perdão pode se tornar mais dificil para eles, pois nem o amor seria capaz de apagar a vergonha de ser corno.
E de onde vem essa ideia maluca? Não é preciso pensar muito para entender a raiz do problema. Desde sempre o homem “de verdade” é medido pela sua potência sexual, pelo controle que exerce sobre sua(s) mulher(es), pela sua virilidade. Homem com H maiúsculo não nega fogo, pensa em sexo o tempo todo, não faz serviço doméstico, pega qualquer mulher que “der mole”, é um mestre dos lençóis, não dá motivos para a mulher pular a cerca, não chora, não tem impotência, não sente dor. Mas o que ainda não perceberam foi que esse homem é uma ilusão, que muitos querem tornar realidade sob pena de serem infelizes tentando corresponder a um modelo inalcansável de Super-Homem.
O corno, como o homossexual, é entendido (inconscientemente) como um homem que não vingou, que fracassou em desempenhar o papel esperado, se tornou passivo em uma relação em que a mulher “tomou seu lugar” de potência sexual. O corno, nesse sentido, seria menos homem, porque não conseguiu “manter as rédeas” da mulher. Por isso o traído em questão preferiu processar o amante, como se quisesse se vingar do “homem que não conseguiu ser”. No dia em que os homens sofrerem com uma traição por ciúmes, e não por desonra, talvez não serão mais chamados de “solenes cornos”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Para não deixar batido...

Postado por Lu às 10:06 2 comentários

Um amigo me enviou ontem um texto do Digestivo Cultural, que falava de “gostar de homem”. Achei o tema bom e resolvi escrever sobre ele. O tal artigo falava da importância de “apreciar o homem” do jeito que ele é (barba por fazer, graxa nas mãos, o tal machão), e de como nós, mulheres, somos “culpadas” pelo surgimento dos metrossexuais, que seriam uma decepção para a autora e suas amigas. Ela conta também como os homens passaram a entender as mulheres depois de Vinícius de Moraes. E como as mulheres pararam de entender os homens depois do feminismo. Bom, cada um com sua opinião, claro! Mas não concordei com algumas coisas que ela disse.

Para começar, dizer que os metrossexuais são o oposto do machão é exagero. Explico: esse tal novo homem, junção de metropolitano com heterossexual, é fruto do consumismo moderno, da vaidade excessiva, do individualismo, não de desejo feminino. Os homens passaram a se cuidar mais fisicamente, mas não significa que eles estão ficando mais “sensíveis”. Nada garante que um metrossexual pense de forma diferente de um machão sujo de graxa. É muito possível que a finalidade dos dois seja exatamente a mesma: “pegar mulher”, cada um com seu estilo.

A mulher quer que seu homem seja exatamente como sua melhor amiga? Nem tanto. Pessoas conscientes sabem que cada um deve ter sua maneira de pensar e agir, mas não é pecado algum querer educação, respeito, atenção, consideração, e até um pouco de vaidade no companheiro, por que não? Há certas posturas que não diminuem, ou não deveriam diminuir, a masculinidade ou feminilidade de ninguém. Não é necessário agir como um ogro para ser homem e é isso que todos precisam compreender, já que grande parte deles age como tal para não perder seu caráter masculino diante dos outros.

Ao contrário do que a autora do texto pensa, acredito que os estereótipos só atrapalham nossa vida. São eles que fazem mulheres e homens serem questionados em suas ações diferentes do resto do grupo. E é nesse ponto que fica imperativo a mulher “falar pelos cotovelos” enquanto o homem “conserta a carrapeta da torneira”, mesmo quando isso não diz respeito diretamente a todos integrantes de cada gênero.

Piadas que separam grupos “opostos” (leia aqui um exemplo) não são engraçadas, principalmente porque é nessas brincadeiras que aparecem os preconceitos arraigados em nosso discurso. Tenho certeza que homossexuais não acham piadas de gays engraçadas, assim como eu não acho engraçadas as piadas machistas. Nem toda mulher fala muito, nem todo homem é prático, nem toda mulher chora em filmes e é sensível, nem todo homem tem uma pedra de gelo no lugar do coração, nem toda mulher é perfeccionista e por aí vai. Generalizar é pernicioso e cria uma barreira ainda maior para a lenta mudança pela qual estamos passando atualmente.

Também discordo que os homens se embrenharam tanto no universo feminino. A maioria deles continua achando as mulheres fúteis e interesseiras, que falam pelos cotovelos e gastam tudo no shopping, isso quando não são as mães e donas de casa. O caderno feminino dos jornais ainda continua tendo praticamente só moda, decoração, cuidado com os filhos e com a casa, um pouquinho de carreira, e mais moda. As propagandas de produtos de limpeza na TV ainda colocam a mulher como a responsável pelos cuidados com a casa e com os filhos. Os homens ainda fazem comentários indiscretos nas ruas relacionados ao tamanho de nossas bundas e peitos, sem compreender que, no universo feminino, isso é falta de respeito e educação. Eu posso enumerar várias razões para acreditar que nosso universo está longe de ser admirado e respeitado pelos homens.

Concordo que muitas vezes perdemos nosso interesse pelo masculino ao tentar consertá-lo, mas culpar somente a nós, mulheres, é, no mínimo, aceitar a imposição desse universo sobre nós. Esse é, inclusive, um dos métodos bastante usados na manutenção do sistema patriarcal: culpar a mulher pela própria opressão, pelo próprio sofrimento. Afinal, somos nós que criamos os pequenos machistas, somos nós que os elegemos, nós que nos casamos com eles, nós que persistimos em prosseguir com casamentos falidos e infelizes, nós que não sabemos cuidar de nossos homens, não é? Mas será mesmo que essa culpa é só nossa? Acredito que não. Ninguém faz o mundo sozinho, seja homem ou mulher.

É claro que precisamos respeitar as diferenças entre homens e mulheres, e não só entre eles, e sim entre todas as pessoas de práticas e culturas diferentes. Porém não faz parte dessa aceitação a culpabilização da mulher. Aceitar a diferença não é abaixar a cabeça para imposições de qualquer espécie.

Não creio que mulheres estejam deixando de apreciar o homem, pois, se isso realmente ocorresse, não haveria mais amor, nem esperança de mudar. Ver defeitos não é deixar de admirar, nem de amar. A mudança (de homens e mulheres) é necessária e urgente, se realmente quisermos uma sociedade de pessoas livres de pensamento, de amarras culturais, e de papéis pré-estabelecidos impostos por alguns e seguidos por todos.

 

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